Tenho 20 anos. Tudo o que eu sei sobre a sabedoria aprendi com meus pais e com Rubem Alves. (Sim, vocês vão ouvir muito falar dele.) E nesse tempo todo descobri coisas muito simples e maravilhosas. Sabedoria é degustação. Isso é coisa do Rubem, não minha. Mas concordo plenamente.
Quem apenas lê os jornais, não é sábio. Jornais trazem fragmentos de realidade e a opinião de quem os escreve (ou a de quem manda escrever), não possibilitando de forma clara o exercício da reflexão. Ele te enche de informações, mas isso não é conhecimento, quiçá sabedoria!
Sabedoria é ver com olhos de criança. Isso também é coisa do Rubem. Mas veja só, não era de se espantar. Elas reconhecem o mundo primeiramente com a boca. Depois vão crescendo e se esquecendo de quão sábio é degustar o mundo. Aos pouquinhos, lentamente, sentindo cada ingrediente que o compõe.
É por isso que acho que não se encontra sabedoria em jornais. É tudo picado e pra ser comido rápido! Engolido! Não! Não sinta nada! Só engula! A mensagem dos jornais...
É muito mais fácil encontrar sabedoria em livros. Eles sim, te levam à brincadeira de pensar. Brincadeira perigosa, segundo Clarice Lispector. Primeiro, é preciso arrumar uma forma de se sentir confortável para se ler o livro. Depois é preciso ter paciência para encarar o início, que na maioria das vezes não é lá tão empolgante. E aos poucos, ao longo do trajeto que vai de página a página, como quem se alimenta de um prato de sopa quente, aquilo que está sendo lido vai se acomodando em você. Vai sendo digerido...
E mais bonito ainda talvez seja a sabedoria das experiências vividas. Essas que a gente sente na pele, que deixam marcas, que não nos esquecemos jamais. Quem convive com crianças deve ter isso potencializado, pois de tempos em tempos elas nos deixam de cabeça pra baixo, seja pela forma como vêm o mundo, seja pelas perguntas "descabidas" ou embaraçosas... E é incrível a capacidade que elas têm de nos tirar do supérfluo e nos obrigam a pensar. E por acaso é fácil responder porque que as galinhas têm penas? Ou porque a gente tem que crescer?
Um encantado me perguntou um dia: "Por que você não ficou pequenininha?" Suspirei. Aquela criança de poucos anos mal sabia a que aquela indagação me levou. Descobri que não queria, mas a gente não escolhe, assim como não escolhemos um montão de coisas. E comecei a pensar o porquê de não querer e o por quê de querer também! Tudo numa simples pergunta infantil. Tão genuína quanto se pode esperar de uma criança e apenas dela.
Mas o que fica de mais importante é a necessidade de compreender que o tempo é precioso, o mundo também o é, e não vale a pena passar por tudo isso que costumamos chamar de vida sem a sapiência da degustação. Não vamos engolir o mundo, engolir as pessoas, engolir os problemas, engolir a felicidade. Vamos degustar de tudo! Vamos conhecer a culinária de todos os países! Ela tem muito a dizer sobre um povo. Vamos passear pelo mundo como se ele fosse uma cozinha farta e bem cheirosa. Quem sabe assim, nós paremos de viver sob a ditadura da parceria entre relógio e calendário e passemos a olhar para o cotidiano com mais amor e com mais apetite.