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quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quero fôlego!

Às vezes o corpo cansa. As costas reclamam, os joelhos reclamam, a cabeça reclama.
Às vezes a alma se cansa. E parece que quando isso acontece, é de uma vez.

Hoje estou de alma cansada.

Cansada de não corresponder nem aos meus anseios, nem aos dos outros - maldito muro!
Cansada de fazer tudo errado, me arrepender e repetir o erro.
Cansada de um mundo que eu não entendo e que não conheço
Cansada de não caminhar - e não aprender.
Cansada de abrir os olhos e não enxergar nada, além de uma cena borrada.
Cansada de falar e não dizer.
Cansada de olhar e não ver.
Cansada de cantar e não gostar.
Cansada de amanhecer os mesmos dias.
Cansada de gostar e não amar.
Cansada de esperar e esperar.
Cansada de viver um assustador futuro e um medroso presente.
Cansada de não ter histórias para contar.
Cansada de ensaios.


Acho que já me fiz entender. Estou cansada.

Não da vida. Perdoe-me se foi o que pareceu.

Cansada disso que não chamo nem vida, nem morte. É o muro. É dele que estou cansada. 

Ando precisando é de fôlego! É de gana!

Alguém me arranja uma dose? Não muito cara, por favor. Meus recursos não me permitem muito. Não hoje. Talvez amanhã. Mas só depois do fôlego.

domingo, 25 de julho de 2010

Eu vi uma linda união!


Hoje vim falar de um ritual muito antigo que ocorre entre os católicos e que tive a experiência de presenciar no último final de semana: o casamento. Não. Vim falar mais que isso. Vim falar de amor - mais uma vez. E, sim, vou falar de casamento e amor, mesmo não esquecendo da questão antropológica da coisa.

No último sábado presenciei a união matrimonial de dois amigos queridos. E, como há muito não conseguia, vi enfim uma celebração transbordante de verdade, genuíno e, se a palavra não soasse tão grotesca, poderia dizer até mesmo visceral. Há muito não vou em um casamento em que eu consiga olhar para um casal e saber que eles se importam, verdadeiramente, um com o outro. Que é mais importante a bênção recebida, que a festa que os aguarda. Que fosse realmente importante reunir a família inteira de ambas para agradecer por tudo o que fizeram por eles.

Para muitos a  celebração do casamento é só mais um passo dentro da tradição. As belas noivas se preocupam com seus vestidos e penteados, com a roupa da porta-aliança e com os enfeites da Igreja. Se sobra tempo, quem sabe pode lhes passar pela cabeça que talvez o dia de seu casamento seja memorável pelo seu significado e não pela pompa. Não que a amiga-noiva não tenha se preocupado, pois ela estava linda, mais do que todo o resto. Mas dava para sentir no ar, nos olhares, nos sorrisos, nos suspiros e nas lágrimas que aquele momento era mais que memorável por si só.

É claro que, chatinha como estou ficando a cada dia, não pude deixar de reparar no discurso do bispo em prol da união entre HOMEM e MULHER, como Deus e a Natureza conceberam. A homofobia estava disfarçada de heterofilia. Não acredito que um dia a Igreja Católica abrirá qualquer brecha para a legalização do casamento gay, mas também não precisa dar início a uma campanha contra!

Se ele me perguntasse, diria que havia coisas muito mais importantes a serem abordadas naquela homilia, além daqueles minutos de "Guia do recém-casado".

Eu diria a eles que se perguntassem o motivo pelo qual estavam se casando. Porquê as pessoas se casam? Só para cumprir o formulário? Será esse o caso de vocês? E eles teriam certeza que não.

Eu citaria uma fala do filme "Dança comigo?": as pessoas se casam porque querem uma testemunha para a sua vida. Alguém que lhe diga que sua vida não passou despercebida, pois ela estava lá, participando de todas as suas conquistas.

Alguém que no final da vida segure a sua mão e diga: "Valeu, minha garota! Valeu cada minuto..."

Alguém que te leve a ser o melhor que você pode ser. Taí! Acho que o amor verdadeiro (ou o mais próximo que se pode chegar disso) tem, necessariamente, essa capacidade: de nos tornar o melhor que nós podemos ser, porque queremos ser o melhor para ela e para nós mesmos.

Alguém que saiba perdoar nossos defeitos e que nos fará exercitar nossa habilidade em perdoar também.

Alguém que seja parceiro, alguém que você tem a certeza de que pode contar com ela.

Estou sendo muito utópica? Talvez. Mas eu sei que esse jovem casal tem o meu aval. Se daqui há alguns bons anos me perguntarem, eu direi que presenciei uma união sincera, sustentada com aquilo que gosto de chamar de amor.  

Parabéns, casal!

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um conto sobre vinte anos, chocolate e velho amor

Uma tarde de agosto. Era inverno no hemisfério sul do mundo, uma senhora de cabelos bem brancos, calças de algodão tingidas de azul e blusa branca bem leve e confortável, preparava um doce chocolate quente. O bastante para três.

Tinha uma expressão leve no rosto, mas de alguma forma era possível perceber o ar de satisfação. Faltavam apenas poucos minutos para a chegada da visita, se esta não se atrasasse. 

Quanto tempo havia passado desde aquele dia... O último em que se lembra de ter visto aquele homem. Lembra-se como se a cena houvesse se passado no dia anterior: uma praça com tulipas vermelhas, rosas e brancas, um mar em degradê, brisa fresca abraçando o corpo e uma espera. Ao longe, avista o homem no auge de seus trinta anos, caminhando ao seu encontro. Ele senta ao seu lado, pega em sua mão, sorri e a olha de maneira profunda como nunca antes havia feito. Ela não sabia. Seria a última vez em muitos anos.


Vinte anos depois, numa manhã de calor, o carteiro deixa em sua porta uma carta com aquela letra confundível: letra de homem. Uma carta profunda que contava dos acontecimentos mais relevantes desses vinte anos distantes: seu casamento, suas conquistas profissionais, o nascimento de sua filha. Almejava um encontro. Em nome nos velhos tempos. E levaria companhia.


O que se pode pensar de um amor que foi embora? Que simplesmente se foi e que reaparece vinte anos depois querendo mostrar-se diante de você? Não importa o que fariam as outras pessoas, ela o receberia. Afinal era um amor, dos mais belos que atravessou sua vida. Não o maior - teve a felicidade de se casar com aquele que acompanhou quinze anos de sua vida e que se foi em virtude de um grave acidente (que de virtuoso não tinha nada...). Mas era ainda um belo amor, que deixou marcas e saudade.


Tentava se lembrar da história. O começo, o meio e o não-fim. Depois de vinte anos, só ficaram as boas lembranças. A única que havia sido ruim teve fim com o envio desta carta: agora, sim, poderíamos ter um fim verdadeiro, concreto para esta história. Finalmente ela saberia o que aconteceu. Ou não.


Batidas à porta. Um homem por volta de seus cinquenta anos de porte fidalgo e com cabelo despenteado, como sempre o teve, acompanhado de uma jovem muito bonita que olhava a senhora na porta com olhos surpresos e com alegria.


Naquele fim de tarde e noite, a senhora não teve nenhuma das respostas que procurava, mas também não sentiu falta delas. Aqueles momentos foram somente de prazer, raros nessa vida de incongruência em que fingimos ser adultos felizes, em que ela teve a companhia de um amor que não envelheceu e de sua jovem filha cheia de sonhos, tomou chocolate quente à moda de sua mãe e viu uma história suspensa em seus dois pontos, ganhar reticências...

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Caminhantes e aprendizes


Ontem incuti de aprender a tocar a música "Come away with me", da Norah Jones. E eis que isso foi o suficiente para me fazer pensar.

Talvez toda a minha existência, quiçá a de todo o ser humano, seja permeada por algumas atitudes que devem nos atravessar. Penso que vive mais e melhor aquele que aceita sua condição de caminhante e de aprendiz.

Caminhar não só pelas ruas da cidade, mas caminhar pelo mundo, caminhar pelas idéias, caminhar pelos sonhos, caminhar pela vida, caminhar pela História, caminhar para frente!
Não digo que aqueles que foram privados de caminhar com as próprias pernas, estejam dispensados desta condição. Sempre é possível caminhar, seja com a ajuda de cadeiras de rodas, da internet ou da literatura. Ou de ambas! O importante, de fato, é sair do lugar, é se mexer, é fazer uso da excepcional dinamicidade dos dias, das horas, do corpo e eu diria, principalmente, do pensamento. 

Benditos aqueles que privados do direito de ir e vir físicos, não esmaecem perante a dificuldade e fazem da capacidade de imaginar o seu mais poderoso instrumento, sua arma secreta, seu poder infalível.

Ademais, somos mais felizes quando percebemos quão pequenos somos, mas quão poderosos também podemos nos tornar quando nos reconhecemos aprendizes. A força de um aprendiz consiste exatamente em fazer de seus erros sua maior oportunidade de crescer e de que o mundo inteiro é seu lugar, que todas as pessoas são professores e que não há nada que não se possa aprender.

Eu já aprendi bastante coisa desde que cheguei a este mundo, mas nada se compara ao que ainda tenho que aprender. Já sei me comunicar por palavras ditas e escritas, por olhares, por gestos. Sei compreender a linguagem dos meus semelhesntes mais próximos. Já sei que existem palavras mágicas, mas a mais poderosa é uma chamada "perdão", ainda que a "gratidão" brilhe muito perto de algumas outras. Aprendi que tudo nesse mundo tem um sentido, alguns mais fáceis de compreender, outros não. O sorriso tem sentido e a lágrima também. A alegria tem um sentido, mas a ira também.

Ao mesmo tempo, existem algumas outras coisas que demorei mais a entender. O que é justiça, o que é solidariedade, o que é lealdade, o que é ironia, o que é metafísica...

E sei reconhecer que, da infinidade de coisas que tenho para aprender, algumas serão mais dolorosas, como ter que lidar com a solidão, com a saudade, com a ausência de certezas, com a noite, com a dúvida, com os filhos, com os fantasmas, com a ansiedade de saber se no futuro vai dar tudo certo.

Todos os sinais apontam para um caminho longo... (Se Deus quiser e eu fizer tudo direitinho!)

Mas sabe uma das coisas mais bonitas que estou aprendendo atualmente? Nunca estamos sozinhos.Por mais que estejamos distantes das pessoas queridas, seus ensinamentos, as experiências que vivemos juntos, as imagens guardadas em nossa memória, fazem que não estejamos sós.
Não que ficar sozinho seja danoso. Pelo contrário, às vezes é essencial. Mas é uma solidão diferente. Ela é escolhida, é uma opção que pode ser modificada assim que for mais uma vez necessário. E, sem querer me contradizer, sozinhos de verdade não estamos. Vivemos rodeados de manifestações humanas. Mas o isolamento instaura um silêncio maior, em que é possível ouvir nossos próprios pensamentos.

Mais um produto da aprendizagem!

No final das contas a única coisa que importa realmente é se conseguimos fazer jus a essas duas condições. Se caminhamos bastante e se aprendemos ao longo do caminho.

Tirando proveito da companhia, "come away with me"... 

terça-feira, 13 de julho de 2010

Uma carta ao futuro amor

Querido amor do futuro,


Você existe mesmo? É que fico com o coração meio apertado quando penso que a minha ansiedade pela sensação de completude pode ser totalmente frustrada... O que eu faria se você não tiver forma física? Se não estiver personificado?

Quase consigo me acostumar com a idéia de que a "imperfeição de ser metade" (frase de Habel Dÿ Anjos) é que me fará encontrar sentido na odisséia constante em que sigo. Apenas por ser metade é que eu posso acreditar na possibilidade de existir alguém com o mesmo propósito que eu.

Desse modo, se por acaso - e apenas por acaso - você acabar lendo esse post, quero aproveitar para te deixar uma mesagem: tenha calma, tenha paciência. Aqui, onde estou, venho me preparando para o encontro fatídico que dará outro rumo a nossas vidas. Ou não.

Não é que eu acredite estar pronta um dia. Estamos em constante mutação e eu acredito que estou em plena metamorfose nesse instante. Mas algumas coisas devem ser arrumadas antes de saber quem é você.

Por isso tenha a calma que eu ainda não tenho.

Por isso, ansiosamente espero.

E se no dia em que eu topar com você na banca de revista, naquele dia em que eu for ao cinema sozinha, quando eu te pedir uma dança, me reconheça, pois eu vou te reconhecer. Eu acho...

Depois de te escrever, aquieto minha alma. Ufa! Agora, sim. Espero em paz.

Até mais!