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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Caraca! O post de baixo ficou enorme! Vamos ver se vocês se animam a ler...
Talvez seja mesmo como dizem por aí. Quando nos aproximamos do fim, nos lembramos do começo. Aconteceu assim com o fim de namoro, com a conclusão do Ensino Médio, com a viagem ao exterior... E é assim que estou me sentindo ao chegar da celebração da Paixão de Cristo. Para quem não sabe, na Igreja Católica, tão cheia de rituais, como vocês provavelmente já perceberam, todo ano passamos pelo período da Quaresma, que se inicia exatamente após o carnaval, na quarta-feira de cinzas (não no Rio de Janeiro, porque o carnaval só termina no domingo, quando o pessoal se despede dele chorando!). Esse período só termina quando começam os ritos do Tríduo Pascal: a Sexta-feira da Paixão, o Sábado Santo e o Domingo de Páscoa.
Trocando em miúdos: na sexta a gente relembra a morte de Jesus na cruz, no sábado temos o período de luto, em silêncio, mas já celebramos o fogo novo no final do dia, e no domingo - o tão aclamado domingo - celebramos a Ressurreição de Jesus, em uma grande festa.

Após a minha "adolescência espiritual" (chamo assim porque acho que ilustra bem essa época de contestação dos valores, época de colocar os princípios de nossos pais à prova e tudo isso que adolescentes adoram fazer, pagando o preço que pagam), eu estou vivendo um período de aproximação. Hoje olho com muito mais carinho e compreensão para todos os rituais da Igreja Católica. Ainda mais depois de ter aulas com o professor Roberto Bello sobre o papel dos mitos e da eficácia simbólica em nossa vida. Simbolizar é preciso, ainda mais quando temos a "magia" em nossa constituição. É por isso que a Paixão de Cristo hoje me tocou bastante. O porteiro do meu prédio, ao abrir o portão pra mim, me perguntou se eu estava triste. É... Eu estava sim.

Mas como eu disse no início, começamos a lembrar do início no fim. Eu me lembrei de Jesus muito vivo.
Ele deve ter sido uma criança normal. Tão normal quanto pode ser um filho de Deus que ainda não sabe disso. Ele era tão divino quanto todos somos (com a diferença que não fomos concebidos como ele. A nossa concepção teve muito mais sacanagem, com certeza.) Se pouco se fala da infância de Jesus, não me lembro de nada que se refira à sua adolescência. Como era ser um adolescente judeu a dois milênios atrás? Será que já tinha esse caráter contestador de hoje ou isso é só mais uma invenção ocidental? Bom, que a infância e a adolescência enquanto "fase da vida" é construção, eu posso afirmar que sim. Mas se o sentimento de "revisão" e oposição era similar, mesmo que não nomeado, não sei. Mas gosto de pensar em um Jesus de quinze anos carinhoso e inteligente. Talvez só assim ele pudesse chegar a descobrir sua missão na idade adulta. Porque foi capaz de refletir sobre as questões do mundo que o cercavam, de como o homem estava se comportando em sua passagem por ele, e com certeza, garantindo uma formação bastante rica no que diz respeito ao conhecimento espiritual de sua religião. Não sou uma grande estudiosa da Biblia, mas acho que isso tem suas vantagens e desvantagens. Desvantajoso, por que talvez as resposta que eu procuro estejam algumas por lá. Por outro lado, vantajoso, porque eu posso refletir sobre as questões antes de ser influenciada por uma resposta já pré-existente, anterior ao meu processo de construção do conhecimento.

Reparei que escrevi um parágrafo do tamanho do mundo! (Ui! Hipérbole bonita!) Mas prossigamos...

A vida adulta de Jesus, sim, está fartamente narrada no livro sagrado, mas no que diz respeito aos 3 anos de peregrinação e ensinamento até a sua morte. Após uma formação que parece advir de uma dedicação extensa (apesar de eu achar que Jesus nem sabia ler, afinal era filho de camponês, mas conhecia todas as Escrituras de cor), Jesus se mostra em público e é reconhecido como Filho de Deus em seu Batismo, pelas mãos de João Batista, óbvio. (Antigamente era fácil reconhecer as pessoas, já que seu sobrebome era seu ofício ou sua procedência - João Batista, Jesus de Nazaré, José de Aritmateia...)

Dali pra frente Jesus se embrenhou pelo caminho do conhecimento - um caminho quase sempre perigoso. E viveu o que eu chamo de condição humana. Ele caminhou (muito!!) e aprendeu. E mais: ele ensinou. Acho que devo acrescentar isso na minha teoria da condição humana: somos caminhantes, aprendizes e mestres, ao mesmo tempo. Jesus cumpriu essa condição e isso prova que ele foi um ótimo exemplar de humano.
Se viu naquela época um homem diferente. Extraordinariamente inteligente, pois sem instrução acadêmica alguma foi capaz de fazer uso de técnicas discursivas coerentes para se fazer ouvir e captar a atenção de dezenas de pessoas. Teve coragem de enfrentar autoridades e era extremamente autêntico. Se estava feliz, ele dançava. Se estava furioso, ele demonstrava (lembram da cena do templo? Em que ele destrói todas as barraquinhas do povo que vendia na casa do Pai dele? Se ele visse o que a gente faz hoje...). Se estava triste, ele chorava. Se precisava puxar a orelha, não fugia da responsabilidade. Ele puxava.

Há quem diga que ele foi casado com Maria Madalena e a Igreja Católica ortodoxa chuta essa teoria pra longe. Eu, ao contrário, a olho com muito carinho e interesse. Se Jesus tivesse casado e tido filhos eu acharia o máximo! E acharia extremamente coerente, porque tenho certeza que ele era sexuado como todo ser humano. Afinal ele viveu em tudo como nós, menos no pecado. Que eu saiba sexualidade não é pecado. É natureza. Nada mais provável que a paixão de Jesus por Maria Madalena, a mulher que ele salvou. Aliás, hoje na celebração, onde toda a paixão é narrada, algo me saltou aos olhos. Diz-se que Maria, sua mãe, Maria de Cléofas, sua tia, e Maria Madalena estavam aos pés de Jesus na cruz. Logo em seguida, logo no próximo versículo, Jesus entrega sua mãe para o discípulo amado, dizendo: "Mulher, eis aí o teu filho. Eis aí a sua mãe." Sabendo que no hebraico feminino e masculino se confundem com frequência, será que Jesus não estava encarregando sua esposa de cuidar de sua mãe depois de sua morte? Bom, seria um pouco estranho, porque numa sociedade machista, uma mulher cuidando da outra seria o mesmo que nada. Mas João, aquele que dizem ser o "discípulo amado" nem estava na cena! Ai, caraminholas...

O fato é que eu acharia muitíssimo interessante que Jesus também tivesse vivido essa parte de sua humanidade, porque sua divindade estava em sua bondade, em seu carisma, em sua sabedoria, em suas mãos milagrosas, em suas palavras de conforto e de discernimento. Ora bolas! E digo isso com toda a sinceridade que posso ter e vocês podem concordar comigo ou não. Lembrando que isso é só um blog e não um documento oficial, assim que o compromisso que tenho com essas palavras diz respeito somente à liberdade de expressão e à minha cognição.

Apesar de não gostar muito do padre da paróquia que tenho frequentado, hoje concordei com suas palavras na homilia (aquela parte da missa que sucede a leitura do Evangelho e o padre faz uma pregação, que é a interpretação das Sagradas Leituras com os dias atuais). O padre disse que nós celebramos a morte de Jesus, mas o que nos importa mesmo é que ele tenha ressuscitado. E digo mais: importa a sua vida! Em como ele a viveu e como se doou para os seus. Escrevi sobre isso no post sobre o Natal, do dia 24 de dezembro.

As pesquisas em Psicologia Positiva sobre o Bem-Estar e a Felicidade geralmente se interessam pela questão de como as pessoas felizes fazem para serem felizes. Será que elas nascem com um gen da felicidade? Ou elas se tornam felizes ao longo da vida? E se assim for, quais são esses fatores que contribuem para uma vida feliz? Bom, algumas pesquisas relatam que um desses fatores, praticados pelas pessoas que se declaram realmente felizes, é o altruísmo. É o ato de praticar o bem, "desinteressadamente". Coloco entre aspas porque acredito que sempre há um ganho secundário. Na verdade, a felicidade pode ser o maior ganho secundário oriundo da prática do altruísmo. "Fazer o bem, sem olhar a quem", a sua máxima.
Jesus, sabiamente nos dá a melhor receita de felicidade! Nos diz, muito mais através de seus atos que de suas palavras, para sairmos de nosso auto-centro e abandonarmos o nosso egoísmo, pelas outras pessoas. Pelo "próximo". Aliás, o próximo é alguém muito interessante. Quem é o próximo? Espertinho, Jesus responde a essa pergunta com uma metáfora e não com um conceito. Todo mundo sabe quem é o próximo, mesmo que não saiba conceituá-lo. Ele existe enquanto experiência. O próximo existe na experiência e não na abstração. Ponto pra Jesus! Você saberá quem, verdadeiramente é o próximo quando você estiver com ele na experiência. Não adianta dizer que o próximo é o pobre, o mendigo, o vizinho, qualquer ser humano. Não. O próximo se constitui como próximo dentro da relação. Então, não se preocupe. Acho que foi o que Cristo quis dizer quando, ao terminar a parábola, pergunta: "Então, quem é o próximo?" E aquele que havia perguntado dá a resposta certa.

Não preciso contar a história da Paixão e nem quero neste momento. Cabe apenas dizer que Jesus morreu. E não digo que injustamente, apesar de parecer uma heresia. Ele morreu porque cabia à história dele e à nossa. Eu sei lá dos desígnios divinos pra dizer se essa foi a melhor forma, mas foi como aconteceu! E cabe a nós nos perguntarmos se valeu. Pergunte a você mesmo se valeu a pena. A terrível pena da tortura e da morte implacável. Eu me sinto lisonjeada. De uma forma horrivelmente dolorosa, mas sou grata.

Obrigada, Pai três vezes, por ter feito isso por mim e pela humanidade toda. Não merecemos, mas estamos a caminho. Tenha paciência com a gente, chegaremos lá. Te espero no ritual da Ressurreição, pra comemorar a sua vida nova e a nossa nova vida também.

domingo, 17 de abril de 2011

Há mais de um mês fora de casa, eu me deparo com algumas questões que nem sabia serem importantes para mim. É muito estranho essa sensação de não saber que havia um vazio e fico pensando na razão para isso. Talvez porque aquilo que julgava mais importante estava perto de mim: meus amigos e minha família. E de fato, eles são a coisa mais importante da minha vida. A intensidade com que eu os amo não me permitia admitir quaisquer falta. É como uma atitude de ingratidão da minha parte. Como eu poderia admitir que poderia querer alguma coisa a mais? Como poderia ter a audácia de pedir aos céus algo mais? O perigo estava exatamente aí...

Percebi que me faltava o buraco. O buraco do desejo. De alguma forma, passei algum tempo me considerando cheia e isso me incomodava muito, porque não somos seres feitos para estarmos plenos e satisfeitos. Tenho que concordar com a Psicanálise nesse sentido: somos seres desejantes e é bom que continuemos assim. Meu incômodo, minha insatisfação dizia respeito a esse não-desejo. Na verdade, creio nunca ter parado de desejar, mas não poderia dizer qual era meu objeto. Corrijo-me: o que me incomodava era não saber identificar o objeto do meu desejo. Para onde orientá-lo? Um problema.

Comecei a pensar sobre isso quando tive um insight significante (e lá vou eu fazendo misturas de conceitos e teorias...). Percebi que as coisas estavam se encaixando. Na faculdade, o que eu lia em uma disciplina se encaixava perfeitamente na outra; aquilo que lia na faculdade estava acontecendo na vida real; aquilo que eu esperava da vida, vinha bater à minha porta. Tive a estranha e saudosa sensação de que tudo está no seu devido lugar. Tudo está onde deveria estar, porque tudo tem feito sentido! E quando as coisas se encaixam, posso entrar em contato com um inteiro. Uma "inteireza" que há algum tempo eu procurava. E o mais engraçado de tudo: a minha inteireza estava exatamente na existência do meu buraco!! Paradoxalmente, minha inteireza depende do meu buraco estar constantemente aberto e vívido, pronto para a eterna busca de sentido, me impelindo a preenchê-lo com algo novo, me dando ganas e energia, para depois esvaziá-lo novamente e começar tudo de novo...

Sair de casa e da cidade amparada por meus queridos, me fez passar por um processo que deveria ter feito direito na adolescência: me afastar do referencial para então descobrir o que é meu. Não é bem como na adolescência porque não tem sido dramático como costuma ser nessa etapa da vida (acho que o drama eu vivi na hora certa). Tem sido uma descoberta que não dói. Têm sido descobertas gostosas, porque afinal sei que muito do que era dos meus pais é meu também e isso me traz um conforto de estar de volta à casa. Ao mesmo tempo, descobri que outras são totalmente minhas (no que é possível ser original nesse mundo que já viu de tudo) e fico feliz de saber que foi nisso que me transformei. Muito a mudar, mas tudo bem. Porque estou em processo e, o melhor: pra sempre! Eu não tenho mais que esperar que nada aconteça para viver, porque nunca estarei pronta!
Minha amiga Yandra riria de mim ao ler isso e, provavelmente, diria: "Que grande novidade! E você já não sabia disso?" E eu responderia: acho que não! Acho que sabia racionalmente, mas agora eu realmente sei! Tudo o que eu achei que não havia caminhado, eu caminhei! Não na direção que eu esperava, mas não estive parada. Eu caminhei! E pra mim isso significa ter aprendido e ter crescido e ter vivido minha condição humana. Eu sou humana!

Das muitas coisas que tenho aprendido, com certeza terei muito o que escrever. Sendo assim, considerem esse texto, mais como uma pequena introdução, do que um todo "ensimesmado" e fixo. Porque inteiro ele é, mas eternamente cambiável também.

Para todos aqueles que um dia exitaram em sair do casulo, não se preocupem. Quase sempre é uma experiência, no mínimo, interessante e, no máximo... Não há máximo!



Construam a paz.