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quinta-feira, 15 de março de 2012

O universo e seus movimentos

Há tempos venho pensando que se queremos algo, devemos correr atrás. Temos milhares de vontades e a verdade é que a maioria delas ficam jogadas conosco em nossos sofás. Continuo acreditando que devemos nos fazer a nós mesmos, ir atrás do nosso sonho, descruzar os braços, tirar a bunda do assento... todos esses jargões que definem o ato de iniciar uma ação cujo intento é alcançar o que se almeja.

Só que nos últimos dias tenho percebido que o universo tem um funcionamento próprio e juro que parece ter também seus desejos. Assim: você sempre estudou muito, mas o curso que você quer fazer só existe na Irlanda; você compõe músicas ótimas, mas não tem dinheiro para fazê-las tocar na rádio; você sempre quis morar no sul do país, mas seu corpo não suporta a sensação térmica de -2°centígrados; você adora maçãs, mas no quintal da sua casa só nasce limão... Essas coisas que, por mais que façamos coisas em prol do nosso desejo, um impedimento alheio a eles se faz presente.

No entanto, em algum momento mágico da vida pode ser que você se depare com uma bolsa de estudos que banque cursos no exterior; você conhece uma pessoa super bacana no boteco e descobre que ela é dona da rádio e que ela adorou suas músicas; descobre que o efeito estufa fez com que a temperatura no sul do país subisse e o clima se tornasse suportável no inverno; descobriu que você herdou uma terra da sua tia-avó que você nem conhecia e que lá as macieiras brotam que é uma beleza! Entende? Movimentos do universo, que pareciam alheios aos desejos impetuosos do seu coração, mas que coincidem para te fazer mais feliz!

Como chamamos a isso? Destino? Desígnio divino? Bênção? Acaso?
Eu não arrisco uma definição, mas arrisco uma reflexão. Na verdade, talvez seja carma. Sabe aquilo? Se você faz o bem, o bem retornará a ti. Mas se fazes o mal... Volta do mesmo jeito. Eu acho que talvez seja isso!
Tem perguntas que só o tempo responde. Tem vontade que só chega a ser atendida quando você não a quer mais. Tem gente que de tanto querer por perto, se vão. Eu acho que é assim que acontece com muitas coisas na vida e que só fazem sentido quando o universo faz a sua parte.

Eu tenho passado por um momento especial da vida. Têm acontecido coisas que conscientemente não busquei, mas que talvez quisesse muito e não sabia. Tudo porque o universo se movimentou assim, alguém uniu dois pontos remotos e fez uma linha, Deus tomou providências para que as águas rolassem. No final das contas, fico agradecida a quem quer que seja (eu gosto de chamar de Pai) por ter querido algo para mim que me fizesse tão bem e que talvez eu nem merecesse. Deu novo sentido, novo ânimo, abriu novos horizontes.

Essa é a magia dos movimentos do universo: parece ser justamente na hora em que você precisava daquele empurrãozinho. Sensato. Pontual. Certeiro.

Disso tiro uma lição para toda a vida. Faça o que tem que fazer. Se a bolsa de estudos vier e você não tiver estudado , adeus oportunidade; se você encontra o dono da rádio, mas nunca compôs as músicas que estavam só na sua cabeça, lá se vai mais uma... e por aí vai. Façamos a nossa parte e façamos sempre bem. E o bem. Porque uma hora o universo, Deus ou o acaso irão colocar chances no seu caminho e você terá que estar preparado para elas.

Boa sorte para nós! Que tenhamos a visão profunda, os ouvidos abertos e o coração atento!

Até mais!

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

"Sofrer ou não sofrer: temos mesmo essa opção?" ou "Indagações sobre o sofrimento"

O que é o sofrimento? O sofrimento é algo ruim? Digo que talvez sim, e muitos concordarão, geralmente porque ninguém gosta de sofrer (salvo algumas exceções...)

Mas porquê sofremos tanto? Todas as pessoas?! Parafraseando: atire a primeira pedra quem nunca sofreu! Em maior ou menor proporção...

O sofrimento parece atravessar a condição humana. Sofremos ao nascer. Sofremos ao sermos separados do colo e seio maternos. Sofremos ao ficarmos sozinhos na escola pela primeira vez. Sofremos por termos tantas espinhas na cara enquanto há tantos lugares "escondíveis" no corpo. Sofremos por não termos um(a) parceiro (a) aos 30 anos. E listei apenas os sofrimentos que considero de menor escala (mas que, dependendo da situação, é o maior do mundo!).

Mas não é à toa que todos recebem o mesmo título: sofrimento. Porque, seja qual sofrimento for, dói em lugares que nem sabíamos que havia em nós. Dói no peito, bem no meio. Dói na barriga (e não é piriri!). Dói nas entranhas. Dói na cabeça, às vezes de tanto chorar.

Sofrer não é bom. Mas não há ser humano que não sofra! (Ou há?) Eu começo a pensar que o sofrimento é fundante. Sofremos ao termos que abrir mão de coisas caras a nós para viver em grupo. E nós quase sempre vivemos em grupo, mesmo que seja apenas em forma de agrupamento e não de interação.

Talvez o sofrimento da vida seja aquilo que nos permita sentir empatia, pois quando vemos alguém sofrendo somos capazes de "sentir em nós" a dor do outro. A dor não é nossa e nós nunca saberemos como dói no outro, mas sabemos como dói na gente e que machuca pra caramba...

Pessoas se tornam insensíveis quando esquecem a empatia. Assim, dificilmente se sentem tocados pela alegria ou tristeza do outro, pelo prazer ou pela dor do outro. Ou então quando acham que o seu sofrimento é maior que o dos outros. Desse modo, até reconhece que o outro sofre, mas este não chega nem perto do seu sofrimento.

Comecei a pensar sobre isso quando assisti "O Homem do Futuro", com o Wagner Moura (um primor de artista!) em que o seu personagem diz a ele mesmo, numa dimensão em que duas versões dele se encontram: "Só um sujeito mesquinho como você para achar que o seu sofrimento é maior que o dos outros. Todo mundo sofre!" E naquele momento me vi balançando a cabeça concordando.

"Sofrer " é uma categoria quali-quanti. Qualitativamente, sofrimento é sofrimento. Se todos sofrem um dia, então todo mundo se machuca, com maior ou menor capacidade de recuperação. Quantitativamente, uns sofrem mais, outros sofrem menos. No entanto, o único que pode dizer o quanto dói é o próprio sujeito. 
Para alguns, perder a hora justo no dia do vestibular é o fim! Para outros, perder a casa na enchente é lição de vida. As pessoas são muito diferentes e muito parecidas, acredite! "Todos iguais, tão desiguais. Uns mais iguais que os outros...", já dizia Engenheiros. 

Assim que, se sofrer faz parte da vida, então não nos desesperemos com ele, mas aprendamos com ele. Te digo que os sofrimentos que tive na minha curta vida até agora só me fizeram entender melhor como o mundo funciona e de que maneira eu devo me adaptar se quiser sobreviver minimamente a ele. E embora eu entenda pouco dos "porquês" do sofrimento alheio, acho que o meu me capacita a compreender o próximo. 

No final das contas, eu sofro, tu sofres, ele sofre, nós sofremos...

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Das coisas pequenas e infinitamente importantes que a gente descobre quando mexe nos recônditos da alma sem medo de descobrir o que tem lá.



Todas as vezes que entrei na sua vida foi pelo mesmo motivo: ter de você o que faltava em mim. De tudo isso o que você é, tudo isso que eu não fui. Não era. Não sou. E eu nem sabia.

E parece óbvio dizer que todas essas vezes lhe causei dor. Só Deus sabe quanta dor. Foi de você que ouvi: "Você não faz ideia do quanto eu gosto de você", como quem diz: "Ninguém nunca vai te amar como eu estou te amando neste exato momento". E o gerúndio é proposital, para tentar demonstrar a dinamicidade do sentimento que se faz existente junto com a fala.

Mas eu não pude naquele primeiro momento. Nem no outro. Nem no outro. E nem posso agora também, porque o motivo ainda existe.

Este é um texto curto. Existe para além dos meus devaneios e foi inscrito no "papel virtual" em equações binárias (que devem deixar essas poucas letras insuportavelmente matemáticas), porque precisava registrar minha descoberta.
Apesar de insuportavelmente matemáticas, as palavras surgiram só pra dizer que não importa que você ame outra pessoa. Ciúmes é coisa do desejo e o meu é um desejo mascarado. Ele não é real. Ou pelo menos não existe na realidade tendo você por objeto. 

Mas importa que você me ame. De qualquer jeito. Queria que fosse muito menos como amante, muito mais como amiga. Porque o fato de alguém tão especial como você me amar, parece fazer de mim uma pessoa melhor. Me ver amada por você, parece me fazer merecedora de algo genuinamente bonito. " Um bom exemplo de bondade e respeito, do que o verdadeiro amor é capaz". Não é assim que a canção do sonho dizia?

Me perdoem, possíveis leitores deste blog quase abandonado. Mas hoje não pude escrever sobre nada que não fosse a inquietação que gerou este texto. Ainda mais porque o único que poderia compreendê-lo provavelmente não o lerá. Prometo voltar ao normal em breve. 

P.S.: Mas tudo bem se eu não voltar ao normal?

sábado, 27 de agosto de 2011

Ser-no-mundo

Queria escrever sobre algo que fosse importante. Algo que tivesse a ver com o que tenho vivido e descobrir que outras pessoas acreditam no mesmo que eu. Voltei então às minhas próprias crenças: a responsabilidade de cuidar do que se ama. Por que? Ora, porque se você não fizer, quem o fará?

Eu, apesar de tudo, amo as pessoas. Escolhi Psicologia como profissão não foi à toa. Gosto de bicho, sim. Gosto da natureza, obviamente. Mas a minha visão é antropocêntrica, bem impregnada de conhecimento psi. Parto da lente humana para tudo! Se tiver que salvar alguém, salvarei um humano.

No entanto, dizer que tenho uma visão antropocêntrica de maneira alguma dá no mesmo que exaltar a humanidade acima dos demais componentes do universo! Mas é que, apesar da independência do Universo, ele só ganha SIGNIFICADO, depois que a gente o significa, o simboliza. Ele só é realidade para nós, depois que nós dizemos que ele é.

Ao mesmo tempo, nós também só nos fazemos na relação com o mundo! Não existe um homem fora do mundo, totalmente alienado das relações interpessoais, porque se pararmos pra pensar, ao ler um livro estamos nos comunicando com o seu autor. Assistindo a um filme, entramos em contato com toda a gente por trás da sua produção. Se nos deixamos tocar por uma canção, cuja letra nos comove, sabemos que ela é cantada por uma voz humana.

De um ponto de vista gestáltico (da Psicologia da Gestalt), nós realmente só existimos enquanto um "eu" depois do contato com um "outro" que nos descentra, nos põe numa fronteira onde o toque acontece e você se descobre um outro para o outro!!

Porque eu tava falando disso? ... Ah! A visão antropocêntrica! Pois é. Homem e natureza são um só. Homem e universo também. Já ouviram a Zélia cantando: "Não somos mais que uma gota de luz, uma estrela que cai, uma fagulha tão só na idade do céu..." Mas mesmo sendo só fagulha, nós compomos a imensidão. Seríamos importantes só por fazermos parte disso.

Se digo que para mim o importante são as pessoas, também digo que junto à minha preocupação com a humanidade, há também preocupação com o mundo que o suporta. Cuidar do homem é cuidar da sua "Casa", da sua prole, do seu desenvolvimento.

Depois de uma experiência extremamente rica em um intercâmbio em Buenos Aires, com o apoio da AIESEC e a abertura das ONGS's Familia Sur e Mensajeros de la Paz, tenho achado que não estou sozinha na procura de um mundo melhor. E que tem gente fazendo tudo aquilo que ainda não havia tido coragem de fazer: agir. Pessoas que dedicam seus dias a encontrar abrigo, alimentação e carinho pra idosos e crianças.
É preciso cuidar das pessoas, porque elas são o que temos de melhor! Não existiria humanidade sem planeta. Mas existe planeta sem humanidade. O que não existe é "mundo", recheado de significados, sem humanidade. E já que estamos aqui e inauguramos essa face do planeta que só a gente sabe desfrutar, que nos cuidemos bem!

Afinal, da mesma forma que estou disposta a cuidar do que amo, espero que as pessoas que me amam cuidem de mim. Porque todo mundo precisa de alguém que o cuide. Pais, mães, adultos, crianças, idosos, animais, florestas, atmosfera! Todos precisam de alguém. "Adiós" ilusão de ser auto-sustentável e totalmente independente! Eu dependo de muita gente e muita gente depende de mim.

Talvez se aceitarmos melhor essa ideia, que nos parece tão ultrapassada, consigamos nos desprender um pouco da fixação na individualidade e existir enquanto ser-no-mundo responsável por ele.

Existamos então! Sejamos seres-no-mundo! (Heideggerianamente terminando...)






sábado, 16 de julho de 2011



Faz frio na vida. Ele sente e acha bom. Como se ao invés de castigar, o frio cortante o acalentasse. Como se fizesse parte de sua natureza mais remota, intocada, de outra espécie que não a humana. Às vezes até duvida de sua humanidade, mas a reencontra de tempos em tempos quando, ao passear pela rua do centro e atravessar a velha praça, sente um calorzinho incomum vendo uma senhora com seu senhor sentados no banco conversando como se tivessem acabado de se conhecer, tamanho o comprimento do assunto. Mas logo se vê que ali há muitos janeiros compartilhados, pois ninguém que se conhece a poucos dias olha assim com tanta ternura...Vendo isso acha possível pertencer àquela espécie. 

Mas quando anda é quando se sente mais próximo das pessoas. Estranhamente, é quando elas menos parecem lhe apetecer. Passam por ele como folhas que caem da árvore, apressada ou suavemente, apenas passam. No entanto, ele olha ao redor, vê que se confunde com as outras pessoas justamente por ser tão pessoa quanto elas e compartilha desse algo em comum. Pode não falar a mesma língua que elas, pode ter traços completamente diferentes, pode pensar que alguns hábitos são perfeitamente comuns enquanto todas elas consideram abomináveis. Tudo isso o diferencia, mas esse momento do caminhar o aproxima. Ele sabe estar atravessando a multidão como um trem que corta o caminho dividindo-o em duas margens, mas antes de distanciá-lo, pelo contrário, ele pensa ser essa a melhor sensação de unidade possível. Porque sabe ser alguém diferente dos outros, por ter uma composição de DNA que ninguém mais tem e ao mesmo tempo pode ser confundido com tantos!

O caminhar tem essa característica tão mágica: mostrar a quem quiser ver. Porque o caminho, sua forma substantivada, oferece ao caminhante infinitas possibilidades de descobertas, gratuitamente, generosamente e ele só tem que abrir os olhos, todos os olhos que tiver para capturar esses momentos divinos de contemplação.

Todavia, é perceptível que quase tudo é muito efêmero. Quem faz a eternidade é a memória! É ela que define o que fica e o que vai. E o que ele sabe que vai ficar são as melhores coisas que viu no caminho: a cor dourada do brilho dos seus fios de cabelo alvoroçados e a cor rosada de sua bochecha quando está contra o vento e o cheiro que exala quando já não pode conter o êxtase e o belo manuseio de uma colher de pau ao mexer o brigadeiro e a voz suave, que fica mais bonita quando às vezes parece ter roçado a parede e ficado meio rouca e...

...e...


...e...

...e é que já não me lembro. Me perdi na contemplação das coisas bonitas.




segunda-feira, 4 de julho de 2011

Em construção...

Estava aqui pensando com os meus botões... Quem é o homem? Dentre todas as coisas que já pensei sobre isso e que vive mudando conforme a época e as coisas que tenho lido, uma resposta têm me vindo à mente com certa frequência: um ser social. A gente costuma ouvir isso quase como uma lavagem cerebral no Ensino Médio, mas a verdade é que isso tem uma correlação com a realidade observada que me faz parar pra pensar na dimensão de ser um "ser social".

Você consegue se imaginar sem os grupos do qual faz parte? Quando te perguntam quem é você, isso não inclui ser filho de alguém, gostar de determinadas coisas que muito provavelmente muitas outras pessoas também gostem, que estuda em determinada escola ou universidade ou trabalha em um certo lugar? Mesmo que você seja autônomo, você não vende seu produto para determinada clientela? Você não nasceu na mesma cidade que muitos outros já nasceram? Não leu o mesmo livro que muitas ou poucas pessoas já leram? Não gosta de músicas que uma legião de outros fãs também gostam?

Pois bem. Parei para pensar em uma só dimensão que fosse estritamente individual e sabe o que achei?? Nada. Absolutamente nada. Nenhuma crença, nenhum desejo, nenhum objeto. O que significa então ser único? Quando a raposa diz ao Pequeno Príncipe que ele se tornou único para ela, a partir do momento em que a cativou, o que isso significava para ela? Creio que ela dizia respeito a um sentimento de individualidade.
Sobre isso tenho algo a declarar.

Essa sensação de ser alguém único no mundo, de pensar coisas que ninguém jamais pensou, de poder viver à mercê dos outros, de achar que é capaz de viver sozinho e de que não precisa de ninguém é uma sensação produzida. Perguntem por quem e terá uma resposta nada saborosa. Pelos interessados na individualidade! Em quem se interessa pelo fato de todo mundo acreditar que dá pra viver sozinho e que no fundo só o que é meu me importa. Caros leitores, será que não é por isso que a luta pelo que é público (escola, sistema de saúde, praças, eventos...) não gera comoção social? Será? Será??

Muitos "alguéns" fizeram de tudo para que acreditemos que é possível viver à margem dos problemas coletivos. Não, não é assim porque o ser humano é egoísta em sua essência. Eu, pelo menos, não acredito nisso. Acho que tudo o que somos é construção. Se não fosse assim, como alguém poderia ter a ousadia de propor mudanças?

E se tudo é construído, a individualidade também é. A coletividade também é. As representações sobre o mundo também são. E é possível desconstruir tudo também. Se estamos em plena crise, há a grande possibilidade de acabarmos com tudo ou de reformularmos tudo.

Ser social é uma questão que atravessa um milhão de outras questões que nos afligem nesse exato momento. Se teremos água em abundância nas próximas décadas, se teremos segurança para sair de casa, se há solução para a educação e a saúde pública, tudo isso depende de sairmos desse casulo construído pelo capitalismo (sim, ó grande vilão - também construído) e nos movermos rumo ao social.

Vocês podem me questionar sobre o papel da subjetividade e do papel do homem enquanto indivíduo. Eu digo que ela tem a função fundamental de por-se a caminhar e pensar e escolher, mas que também está superestimada. Adivinhem por quê?? A resposta para quase tudo na psicologia caminha pelos rumos obscuros da subjetividade, daquilo que nos é intrínseco. Sempre foi um caminho escorregadio e creio que será assim sempre. (Ou isso também é construído?) Mas se a psicologia enquanto ciência se firmou sobre esses moldes é porque ela também foi constituída em determinado contexto histórico em que se necessitava de uma ciência que explicasse esses incríveis fenômenos que aconteciam com determinadas pessoas e que "nada tinham a ver" com aquilo que era compartilhado socialmente... Essa nova ciência, ávida por corresponder à demanda que suscitou seu surgimento, encontrará explicações. Às vezes torpes, às vezes assertivas, mas sempre dentro de um contexto, um zeitgeist, uma episteme que tornasse possíveis as suas descobertas.

Bom, não pretendo aqui defender a primazia do social, mas sim a via de mão dupla. Sociedade individualista também foi construída, por essa sociedade composta de diversas subjetividades, que por sua vez nasceram da construção social, que... Enfim, já viram que essa é uma bola de neve, né? Caímos no velho "paradoxo Tostines": Tostines é fresquinho porque vende mais, ou vende mais porque é fresquinho?

No entanto, fato é que, já que tudo é construído por nós (sociedade e conjunto de subjetividades) tudo está ainda por fazer. A realidade ainda está para ser formulada, porque - imagine só! - o futuro não existe até que você o faça. Sugiro que tomemos nossas subjetividades (tal qual pegamos um cachorrinho - "Vem subjetividade, vem!"), nos coloquemos a pensar em quem somos de verdade (ser social ou ser individual, apartado do restante das pessoas. Aliás, se você não partilha do mundo das outras pessoas, de que espécie você é?) e propormos um chá da tarde com a humanidade, para pensarmos seriamente no que vamos fazer nos próximos 2000 anos ou simplesmente depois de amanhã, depois que as frutas madurarem...




domingo, 8 de maio de 2011

Esperar e esperar


Existem momentos na vida que parecem valer por todos os outros. Nem todos os dias são de sol brilhante (para aqueles que gostam de sol brilhante), nem de garoa fina (para quem gosta de garoa fina). Há dias sem importância. Não acredito que todos os dias são dias especiais. Acho, sim, que todos tem a possibilidade de serem dias felizes ou desastrosos, mostrando-se dias memoráveis por boas ou más coisas. É improvável, ao meu ver, que se possa ser feliz acreditando que a vida inteira é feliz. Não! Existem dias que torcemos para que acabem logo! Outros em que vamos dormir do mesmo jeito que acordamos. Que nada saltou aos nossos olhos, fazendo a diferença, destacando-se do fundo enquanto figura. O dia simplesmente passou pela gente e não sentimos. Não porque ele não tenha passado, mas porque nós, que somos tempo, não o percebemos. A nossa temporalidade estacionou.

No entanto, também acredito ser verdade que existem dias em que estamos abertos aos detalhes. O brilho do cabelo dela, que nunca tínhamos reparado. As unhas bem desenhadas dele. A quantidade de folhas que aquela árvore perde, formando um tapete amarelado no chão sob ela. Aquele morro que, "possivelmente"  já está ali há muito tempo.
Esses dias ficam marcados na pele. Depois na memória. A minha funciona de maneira estranha. É visual, bem mais que em outras perspectivas perceptivas. Mas se vejo a cena de um filme em que o vento frio está roçando o rosto, eu me lembro perfeitamente do dia em que senti esse mesmo frio no meu rosto e quase posso sentir também minhas bochechas ficando mais rosadas, queimadas pela baixa temperatura.

Esses dias... Ah, nesses dias eu sou mais feliz! E eles fazem todos os outros em que tive que lavar a louça, que tomar banho, que cumprir minhas obrigações em detrimento dos prazeres, fazerem valer a espera!
Porque eu digo a vocês que eu espero. Nada pró-ativo da minha parte, mas sim, eu espero com ansiedade esses dias. Porque eu simplesmente não tenho controle sobre eles! São como cartas de amigos antigos! Você não pode fazer seus amigos que não vê há anos te escreverem, mas um dia eles resolvem escrever e isso nos deixa surpreendentemente felizes!! Pateticamente felizes!!

Juro que o máximo que eu faço é procurar fazer coisas gostosas durante a espera. Eu saio com os amigos, visito lugares que me agradam, me dou um sorvete de presente, escrevo a pessoas queridas, toco uma música nova no violão... E esses momentos vão preenchendo a minha espera. Longe de ser uma busca desesperada por uma felicidade completa e interminável, eles são meus parceiros do dia-a-dia. E eles também sabem que esperam os grandes momentos. Ora! Os fãs dos Rolling Stones podem se divertir infinitamente ao escutar o CD da banda, mas nada, NADA se compara ao show ao vivo! É isso que tenho feito.

Hoje escrevo. Nenhuma obra-prima, mas vou esperando o dia em que a inspiração me invadirá e eu escreverei algo que preste. Assisto TV e aguardo minha mãe no Skype para desejar-lhe um Feliz Dia das Mães. Mas aguardo aquele dia que ficará em minha memória como o dia em que "senti" diferente.
E ele ficará em uma parte de mim que guardo com muito carinho junto aos outros que compõe a vida.

Vai vida...