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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Aquele diante do espelho




Hoje me olhei no espelho e, num repente, me surpreendi ao olhar dentro de meus próprios olhos. Não é incrível que nós possamos ter consciência de nossa existência? Espera! Não estou falando bobagens, nem estou ficando maluca. Ao menos não mais do que todos somos naturalmente e necessariamente para que possamos suportar "o confronto com a consciência da morte e as agruras da vida" (Resende, 1997). (É que eu estava estudando Psicopatologia...)

O que tento explicitar em forma de conteúdo verbal é que fiquei perplexa em pensar na complexidade humana. É mágico! Mágico saber que alguma coisa que não é palpável, não é mensurável, não é observável faz com que estejamos vivos!
Alguns acreditam que o cérebro humano tem a chave para todas as respostas. Talvez tenha... Mas ele é só um órgão. Um magnífico orgão, é verdade, mas apenas isso. Ele é matéria e sua existência explica a maneira como funcionamos, já que ele é nosso instrumento de comando. Mas há alguma coisa a mais que faz com que eu me reconheça e reconheça toda a minha história ao olhar dentro dos meus próprios olhos no momento em que miro o espelho.
Sabe quando os médicos se debruçam horas sobre uma pessoa deitada numa mesa de cirurgia, fazendo tudo o que a ciência médica o permite para salvar a vida daquele ser e ele corre contra o tempo, apenas porque ela ainda está viva! Quando o aparelho envia o grito fatídico, tudo pára: o tempo, as mãos, os olhares, os corações, a respiração, os sons. Acabou. Todo o esforço foi em vão, porque algo se foi. O cérebro parou, o coração parou. Parou de funcionar, quando podia estar funcionando. O que é que se vai? O que é que não está mais ali?!

A vida. O sopro de vida. A alma. Aquilo que faz com que nós acordemos todos os dias, sendo aquilo que construímos, aquilo que somos. Aquilo que eu posso reconhecer ao olhar dentro dos olhos.

"A janela da alma". Não é assim que nos referimos aos nossos olhos? Não é à alma que os pais de crianças autistas tanto queriam ter acesso?

É mágico, sim... E por isso mesmo gera tanta curiosidade. É um imenso desafio, que ainda não sei se deveremos vencer... Talvez seja mais urgente o resgate de nossa alma, que a compreensão dos porquês que rondam a neurociência.
Sim, porque nos dias atuais é muito mais fácil encontrarmos pessoas que cuidam de seus cérebros, mas não de sua alma. Sabem exatamente que área dele faz o quê, mas não tem intimidade com aquele que te olha no espelho. Não sabem quais os anseios, limites e desejos desse que parece tão perto e tão distante...

Heidegger diz que a angústia diante da noção de finitude, diante da consciência da morte, é algo que toca todos os seres humanos em algum momento da vida. É uma das poucas coisas que podemos dizer que é de todo ser humano.
Então sugiro que todos conheçamos o cara ou a garota do espelho bem direitinho, para que na hora de partir nós possamos nos despedir em paz de nosso corpo, pois estaremos em boa companhia a partir de então...

2 comentários:

Lucas Ninno disse...

Texto bonito hein. De verdade. Você tá escrevendo muito bem.

Milady Oliveira disse...

Valeu, Ninno!

É bom receber elogios de quem admiramos tanto!

Grata!