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domingo, 17 de abril de 2011

Há mais de um mês fora de casa, eu me deparo com algumas questões que nem sabia serem importantes para mim. É muito estranho essa sensação de não saber que havia um vazio e fico pensando na razão para isso. Talvez porque aquilo que julgava mais importante estava perto de mim: meus amigos e minha família. E de fato, eles são a coisa mais importante da minha vida. A intensidade com que eu os amo não me permitia admitir quaisquer falta. É como uma atitude de ingratidão da minha parte. Como eu poderia admitir que poderia querer alguma coisa a mais? Como poderia ter a audácia de pedir aos céus algo mais? O perigo estava exatamente aí...

Percebi que me faltava o buraco. O buraco do desejo. De alguma forma, passei algum tempo me considerando cheia e isso me incomodava muito, porque não somos seres feitos para estarmos plenos e satisfeitos. Tenho que concordar com a Psicanálise nesse sentido: somos seres desejantes e é bom que continuemos assim. Meu incômodo, minha insatisfação dizia respeito a esse não-desejo. Na verdade, creio nunca ter parado de desejar, mas não poderia dizer qual era meu objeto. Corrijo-me: o que me incomodava era não saber identificar o objeto do meu desejo. Para onde orientá-lo? Um problema.

Comecei a pensar sobre isso quando tive um insight significante (e lá vou eu fazendo misturas de conceitos e teorias...). Percebi que as coisas estavam se encaixando. Na faculdade, o que eu lia em uma disciplina se encaixava perfeitamente na outra; aquilo que lia na faculdade estava acontecendo na vida real; aquilo que eu esperava da vida, vinha bater à minha porta. Tive a estranha e saudosa sensação de que tudo está no seu devido lugar. Tudo está onde deveria estar, porque tudo tem feito sentido! E quando as coisas se encaixam, posso entrar em contato com um inteiro. Uma "inteireza" que há algum tempo eu procurava. E o mais engraçado de tudo: a minha inteireza estava exatamente na existência do meu buraco!! Paradoxalmente, minha inteireza depende do meu buraco estar constantemente aberto e vívido, pronto para a eterna busca de sentido, me impelindo a preenchê-lo com algo novo, me dando ganas e energia, para depois esvaziá-lo novamente e começar tudo de novo...

Sair de casa e da cidade amparada por meus queridos, me fez passar por um processo que deveria ter feito direito na adolescência: me afastar do referencial para então descobrir o que é meu. Não é bem como na adolescência porque não tem sido dramático como costuma ser nessa etapa da vida (acho que o drama eu vivi na hora certa). Tem sido uma descoberta que não dói. Têm sido descobertas gostosas, porque afinal sei que muito do que era dos meus pais é meu também e isso me traz um conforto de estar de volta à casa. Ao mesmo tempo, descobri que outras são totalmente minhas (no que é possível ser original nesse mundo que já viu de tudo) e fico feliz de saber que foi nisso que me transformei. Muito a mudar, mas tudo bem. Porque estou em processo e, o melhor: pra sempre! Eu não tenho mais que esperar que nada aconteça para viver, porque nunca estarei pronta!
Minha amiga Yandra riria de mim ao ler isso e, provavelmente, diria: "Que grande novidade! E você já não sabia disso?" E eu responderia: acho que não! Acho que sabia racionalmente, mas agora eu realmente sei! Tudo o que eu achei que não havia caminhado, eu caminhei! Não na direção que eu esperava, mas não estive parada. Eu caminhei! E pra mim isso significa ter aprendido e ter crescido e ter vivido minha condição humana. Eu sou humana!

Das muitas coisas que tenho aprendido, com certeza terei muito o que escrever. Sendo assim, considerem esse texto, mais como uma pequena introdução, do que um todo "ensimesmado" e fixo. Porque inteiro ele é, mas eternamente cambiável também.

Para todos aqueles que um dia exitaram em sair do casulo, não se preocupem. Quase sempre é uma experiência, no mínimo, interessante e, no máximo... Não há máximo!



Construam a paz.

4 comentários:

Unknown disse...

A vida nos ensina a cada minuto mesmo. Só desejo que sempre tenha muitas experiencias, e elas como agora sempre te façam refletir. Bem vindo ao Rio. Daniel Karin

Unknown disse...

Oi Mi, deve ser surpresa para você me ver comentando em seu blog, mas lembrei-me de bisbilhotá-lo e resolvi escrever. Isso é novo para mim, assim como tantas situações referente à você. Aliás, você é uma caixinha de surpresa! Quando acho que já consegui lhe entender, em suas aspirações, me deparo com um novo vinda de ti. Sempre soube da sua sede de aventura e sempre fizemos questão de apoiá-la, pois sabemos que o que se leva dessa vida é o que se vive. Viva sempre tudo, com intensidade. Só assim vai valer a pena. Sua ida para a cidade maravilhosa foi preocupante, mas o que seria de nós se não houvesse alguém ou motivo para preocupar-se? Nossa vida seria monótona, muito certinha, com tudo exatamente como planejado - que chato! Tem que ter emoção. Ufa, e bota emoção nisso! Quando falamos em um buraco, pensamos só no lado desagradável e obscuro dele, porém existe um outro lado que este pode lhe servir de abrigo, de esconderijo. E mesmo que estiver dentro desse buraco, alegre-se, pois pelo menos não tem terra por cima. Felicidades sempre!!!!

Milady Oliveira disse...

Ê, paizão... Como vc é meu querido!

Poliglota disse...

AH! Finalmente tempo para comentar! Correria danada nessa calorenta Cuiabá, Mi. Principalmente quando me chamaram pra tocar no aniversário do curso e eu tinha que formar uma banda, ensaiar e conseguir o equipamento em menos de duas semanas. Tudo isso concomitantemente com esse curso puxado que você bem conhece e ainda uns "biscates" pra me sustentar. Enfim, tempo para comentar, e no fim das contas, acabarei comentando muito pouco, porque simplesmente não tenho o que dizer mais do que suas belas (e óbvias) palavras. O tipo de experiência em que você tem muito bem formada a teoria na cabeça - principalmente a experiência de outrem - e então passa por um momento parecido é tal como sair de um casulo. É o conhecer sem saber. É como diria o Troll Master Silvio Santos, no Qual é a Música: Só acredito vendo!
Muitas vezes a experiência de um conhecimento prévio pode ser um belo estímulo aversivo, e quiçá recalcado (Há! Também sei misturar conceitos de disciplinas diferentes), contudo sempre digo, "vivendo e aprendendo" e "o importante é o que importa não importa como"!
Como disse, não tenho muito o que acrescentar. Aliás tenho sim, pode parecer hedonista, porque creio que seja um sentimento compartilhado, mas não custa falar: Tô com uma saudade imensa de ti!