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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sobre "Tropa de Elite 2"




Tropa de Elite 2 saiu e eu vi. Na minha opinião, bem melhor que o primeiro. Mais preocupado, eu diria, com a responsabilidade pela comoção que gerou. No primeiro filme, eu quase era linchada quando dizia que discordava da postura do BOPE e que ficava preocupada em ver como a população em peso aderiu a moda da "tropa osso duro de roer" e de como algumas corporações a internalizaram.

Fazer um filme, uma música, uma tela é muito mais do que "fazer arte". A arte tem a capacidade de inflamar multidões, de criar novos conceitos, de instalar medos, de transformar mentes. Os "arteiros" todos têm enorme responsabilidade em suas mãos e é por isso que acredito que os produtores do segundo filme da série tenham percebido tamanha responsabilidade ao mudar de foco. Agora não basta entrar arrasando na favela. É preciso pensar em política pública. É preciso pensar na segurança de muita gente e na sua também.

A atuação brilhante de Wagner Moura mais uma vez rouba a cena e faz com que muitos brasileiros se reconheçam em sua dor, em sua angústia e em sua ira. Arrisco-me a dizer que, em um cinema lotado, não houve sequer um homem ou uma mulher que não se sentisse vingado em alguns momentos do filme ou que não sentisse o gozo pela queda do outro. E me incluo aqui.

Quem acompanha este blog já deve desconfiar de qual seja a minha postura perante a humanidade, mas confesso que deixei todas as minhas crenças cristãs e políticas de lado para dar lugar à pulsão de morte que há em mim quando o assunto é injustiça. E quando há política e polícia envolvidas nisso... a ira toma conta de mim. 

E foi isso que vi refletido em muitos dos que assistiram ao filme junto comigo: o gozo por ver um poderoso de alto escalão sendo chutado por tamanha covardia e mau caráter que o pertencia. Ñão posso negar. Apesar de não achar que a violência resolva muita coisa, eu sei que ela "soluciona" uma: faz com que nosso ódio tenha lugar, nem que seja no cinema, por um personagem fictício (ou não tão fictício assim...)

Mas o problema da pulsão é que, uma vez extravasada, essa energia volta ao seu estado habitual. É como um orgasmo: tem um pico e retorna ao cotidiano. E as pessoas conseguem então, ao acenderem as luzes, se levantarem, tomar uma cerveja e ir pra casa. Muito bem, obrigada.

No entanto, algumas mentes inquietas fazem jus à responsabilidade da arte e saem com vontade de tentar fazer diferente. Muitas não conseguirão, penso eu. Mas outras farão algo pelos que estão mais próximos de maneira muito real. Não tentarão limpar as favelas dos traficantes, não pensam em acabar com o tráfico de drogas e, o mais difícil de tudo, livrar o país da corrupção, essa maldita lepra que corroe os nossos bolsos e nossas vidas e que são parte de nossa política. De modo bastante real, se colocarão à serviço da comunidade com o que puderem. Liderarão um time de futebol na escola do bairro, ensinarão teatro e música para a moçada interessada, ajudarão com aulas de reforço de matemática, montarão grupos de terapia comunitária, farão oficinas de como escrever um currículo, onde encontrar cursos profissionalizantes, montarão cursinhos pré-vestibulares, ou ainda, sentarão na praça para ouvir o que os jovens tem a dizer. Sobre o que pensam do futuro, qual é o seu projeto de vida, qual a história de cada sujeito, cuja vida passa despercebida aos olhos de todos, às vezes até dos seus próprios...

Não vim escrever uma crítica ao filme, no final das contas. Vim pra dizer a todos os que assistiram e ficaram com a mesma sensação que eu, que não puderam simplesmente se levantar da poltrona como se tivessem desembarcado novamente em seu mundinho depois de uma viagem sinistra, que não deixe que essa sensação passe pela sua vida sem frutos. Que não seja apenas um momento de explosão da sua pulsão de morte. Se não quiser fazer nada parecido com o que eu propus acima, ajudaria muito se você ficasse atento às movimentações políticas da sua cidade, do seu estado e de seu país. Por que, por mais que você não tenha votado no candidato que ganhou, ainda é sua responsabilidade ficar de olho no que ele faz com o seu e com o meu dinheiro. Com a sua e com a minha vida.

Capitão Nascimento teve que se tornar Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro para perceber que o buraco é mais embaixo. Que não se resolve tudo subindo na favela e matando todos os bandidos. O que nós precisaremos para tomarmos como nossa a responsabilidade de cuidar do que é nosso por direito?


5 comentários:

Luciano Maehler disse...

Muito bom seu texto Mi!!!
Porem meio Utópico.

xizto disse...

Acerca do filme, achei deveras realista. Como você mesmo diz, nesse excelente texto, é uma sensação de vingança que sinto ao assisti-lo repetidas vezes. Parabenizo-a por dedicar-se a desenvolver sua sensibilidade e por compartilhar sua opinião neste espaço. Sempre que possivel, voltarei a visitar e quem sabe me tornar mais um "responsável pela rosa". Até mais Mih e bom trabalho.

Milady Oliveira disse...

Obrigada, Xizto!

E seja bem-vindo!

Luciano, utópico? Não consigo me livrar do carma de crer!

;)

Poliglota disse...

Jamais lembrarei de comentar no seu blog Mi. Posso me ausentar, mas jamais lembrarei. (????) Sim, jamais lembrarei, pois não esqueci. Como posso lembrar de algo que não esqueci. Ausência simplesmente significa ela mesma. Enfim, vamo a minha bela e comum carnificina humana! MUAHAHAHA!

Infelizmente ainda não vi o segundo filme, mas como bom humano que sou, me diverti a beça com a violência do primeiro. Essa é uma boa questão, ora pois, a natureza vive da violência, e claro entender desta forma depende do ponto de referência.

Eu não consigo ver uma cadeia alimentar ou uma reprodução de qualquer espécie, animal ou vegetal, que não haja violência, ainda que pouco no caso dos vegetais. Por que se indignar com humanos se matando ou roubando uns dos outros para próprio benefício, quando não faltam exemplos de feitos parecidos no reino animal "não-comunicativo-simbológicamente"? Alguém sai fazendo filme protestando contra o canibalismo de leões, ou macacos ladrões do japão? Obviamente que não, mas concerteza alguém sugeriu exterminar pelo menos os macacos, eu garanto.

Por que achar que uma bela matança não resolveria muitos problemas. Resolveria, muitos, criaria outros diferentes, mas teria resolvido o primeiro. Imagina o estrago que um bombardeio aéreo ou umas biribinhas atômicas fariam na favela! E importa se morressem alguns milhares de inocentes? Há controvérsias.

O fato é, se no caso do RJ por exemplo, ninguém vai lá e faz o estrago, a própria natureza faz: Morros desabando com centenas de vidas "inocentes" e familias honestas. OH! que natureza cruel!

Não adianta ficar choramingando pela vida de gado. A morte, a detruição de qualquer forma, sempre e obrigatóriamente se dá violentamente. Mesmo morrendo dormindo numa cama bem velho, dentro do corpo foi um belo estrago.

O ódio, a revolta, o caos e a destruição são partes essenciais da vida no universo. São eles que cuidam da renovação da própria vida. Sem destruição, não há criação e vice-versa. É o famoso Ying-Yang como dizem os chineses.

Acho que eu escrevo muito. Eu deveria começar a usar o tal do TUITER pra aprender a resumir minhas palavras...

É isso. ^^

Milady Oliveira disse...

Eu diria que é um bom exercício e, de fato, um desafio. Mas sugiro que continue escrevndo muito para mim, não me importo nem um pouco. Pelo contrário! Fico felissíma quando vejo aquele textão na minha tela.

Bom, nem preciso dizer que discordo redondamente, né?! Acho que a carnificina humana não tem nada de "natural". Tem de "banalizada", isso sim. Na natureza temos parâmetro diferentes. Ela não entende o conceito de justiça, de dignidade, de liberdade - embora possam sentir na carne. Se nós gastamos tanto tempo refletindo sobre isso ao longo de toda a história da humanidade, creio que posso afirmar que nós precisamos de tudo isso!
A matança só tem sentido se abandonamos todos esses conceitos de forma real, e não apenas discursiva. Há quem goste de "ver sangue" (né?!), mas acredito que para isso há churrasco mal passado e seringas loucas por algumas doações!! Assim, eu consigo respeitar a existência do outro por saber que se o outro infringisse a minha eu ficaria extremamente "emputecida" (e não achei expressão melhor). É fácil mandar descer a lenha em alguns punhados de inocentes se eles são só um punhado de inocentes. Mas se forem David, Jéssica, Paulinho, Cabeça, Teté, Ana, Maria Célia... Bom, cada história gritará por si.

;)