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sábado, 27 de agosto de 2011

Ser-no-mundo

Queria escrever sobre algo que fosse importante. Algo que tivesse a ver com o que tenho vivido e descobrir que outras pessoas acreditam no mesmo que eu. Voltei então às minhas próprias crenças: a responsabilidade de cuidar do que se ama. Por que? Ora, porque se você não fizer, quem o fará?

Eu, apesar de tudo, amo as pessoas. Escolhi Psicologia como profissão não foi à toa. Gosto de bicho, sim. Gosto da natureza, obviamente. Mas a minha visão é antropocêntrica, bem impregnada de conhecimento psi. Parto da lente humana para tudo! Se tiver que salvar alguém, salvarei um humano.

No entanto, dizer que tenho uma visão antropocêntrica de maneira alguma dá no mesmo que exaltar a humanidade acima dos demais componentes do universo! Mas é que, apesar da independência do Universo, ele só ganha SIGNIFICADO, depois que a gente o significa, o simboliza. Ele só é realidade para nós, depois que nós dizemos que ele é.

Ao mesmo tempo, nós também só nos fazemos na relação com o mundo! Não existe um homem fora do mundo, totalmente alienado das relações interpessoais, porque se pararmos pra pensar, ao ler um livro estamos nos comunicando com o seu autor. Assistindo a um filme, entramos em contato com toda a gente por trás da sua produção. Se nos deixamos tocar por uma canção, cuja letra nos comove, sabemos que ela é cantada por uma voz humana.

De um ponto de vista gestáltico (da Psicologia da Gestalt), nós realmente só existimos enquanto um "eu" depois do contato com um "outro" que nos descentra, nos põe numa fronteira onde o toque acontece e você se descobre um outro para o outro!!

Porque eu tava falando disso? ... Ah! A visão antropocêntrica! Pois é. Homem e natureza são um só. Homem e universo também. Já ouviram a Zélia cantando: "Não somos mais que uma gota de luz, uma estrela que cai, uma fagulha tão só na idade do céu..." Mas mesmo sendo só fagulha, nós compomos a imensidão. Seríamos importantes só por fazermos parte disso.

Se digo que para mim o importante são as pessoas, também digo que junto à minha preocupação com a humanidade, há também preocupação com o mundo que o suporta. Cuidar do homem é cuidar da sua "Casa", da sua prole, do seu desenvolvimento.

Depois de uma experiência extremamente rica em um intercâmbio em Buenos Aires, com o apoio da AIESEC e a abertura das ONGS's Familia Sur e Mensajeros de la Paz, tenho achado que não estou sozinha na procura de um mundo melhor. E que tem gente fazendo tudo aquilo que ainda não havia tido coragem de fazer: agir. Pessoas que dedicam seus dias a encontrar abrigo, alimentação e carinho pra idosos e crianças.
É preciso cuidar das pessoas, porque elas são o que temos de melhor! Não existiria humanidade sem planeta. Mas existe planeta sem humanidade. O que não existe é "mundo", recheado de significados, sem humanidade. E já que estamos aqui e inauguramos essa face do planeta que só a gente sabe desfrutar, que nos cuidemos bem!

Afinal, da mesma forma que estou disposta a cuidar do que amo, espero que as pessoas que me amam cuidem de mim. Porque todo mundo precisa de alguém que o cuide. Pais, mães, adultos, crianças, idosos, animais, florestas, atmosfera! Todos precisam de alguém. "Adiós" ilusão de ser auto-sustentável e totalmente independente! Eu dependo de muita gente e muita gente depende de mim.

Talvez se aceitarmos melhor essa ideia, que nos parece tão ultrapassada, consigamos nos desprender um pouco da fixação na individualidade e existir enquanto ser-no-mundo responsável por ele.

Existamos então! Sejamos seres-no-mundo! (Heideggerianamente terminando...)






5 comentários:

Poliglota disse...

Certamente concordo com a visão antropocêntrica, cujo modo está explanado na postagem. Mas não posso deixar de confessar que mediante as informações midiáticas diárias, minha dúvida sobre a "humanidade" dos humanos sempre aumenta.

Gosto de acreditar no ser bom de cada um e que da mesma maneira que somos um, somos tudo. Tudo é um e um é tudo. O que já vi nas sublimações artísticas - principalmente cinematográficas acerca deste conceito de unidade universal - é incontável. Não por menos, os filmes, livros e animes que tocam no assunto, sempre terminam por tornar-se meus favoritos.

Mas como disse, as informações midiáticas são o que põe em xeque minha crença. Não apenas as veiculadas em televisores e rádios, mas também as publicadas em revistas, científicas ou não. Um vídeo belo, e ao mesmo tempo trágico que assisti me faz pensar seriamente sobre a ação humana. Não obstante, alguns documentários do History, Discovery e National Geographic tanto ajudam a perpetrar a ideia de desumano, quanto a de humano.

Sinceramente, minha motivação é uma metamorfose ambulante, sempre duvido, sempre acredito. E creio que se não fosse assim, com a ação dos opostos sobre o mesmo ser, não haveria equilíbrio. Fico chateado quando estou em dúvida ou em "crise existencial", mas se eu exagerasse em crer sempre que tá tudo certo, bonito e elegante, certamente estaria mentindo para eu mesmo.

Não quero deixar tão vazias minhas palavras, então a seguir um link legal, de um comercial da Coca-Cola, a "imperialística" como dizem: http://www.youtube.com/watch?v=nWEgjrvVXUs

Milady Oliveira disse...

Erick! Obrigada pelo comentário! Como sempre pertinente e sensato. E como sempre é um prazer tê-lo por aqui!

Não sei se vc percebeu, mas meus textos sempre se dividem entre aqueles que acreditam e aqueles que duvidam da humanidade. Mas eu acho que os positivos ainda são maioria, mesmo que reflitam as minhas constantes crises existenciais.

Adorei o vídeo! E ainda mais a polêmica que ele gerou nos comentários. Ambos têm razão, mas eu fico com os que vêem o lado bom. Porque o mundo se parece muito mais com um LP, que tem dois lados, do que com um CD que tem um lado só!

Beijo

Saudade de prosear cocê!

Bruna disse...

depois de tanto tempo ser passar aqui (por falta de tempo), me deparo com esse texto! Que maravilhoso, que bom saber que ainda existem 'pessoas'.

Blog Teste CCI disse...

Nossa, já fazia muito tempo que você não postava e hoje eu vejo este texto muito tocante... coincidentemente, essa semana estava me fazendo as mesmas perguntas: "O que fiz para melhorar o Mundo?", "E o que faço está de alguma forma contribuindo para a melhoria (de pelo menos) das pessoas ao meu redor?"

Sempre que posso ajudo alguns asilos e abrigos, já participei de mutirões de ajuda e distribuição de comida para os pobres, já ministrei cursos e aulas de reforço de matemática para crianças da comunidade na Mangueira, já adotei um animal abandonado... Mas me sinto como se nada tivesse feito, me sinto muitas vezes impotente e muitas das vezes me calo perante o que vejo...
Quem nunca reclamou por uma carne malfeita em seu prato diário? E nunca se perguntou que muitos nem o passam tê-lo... Quem nunca disse que a sua vida é miserável e penosa? E nunca se perguntou o que realmente é uma vida miserável, uma vida penosa...
Como a Lei de Newton já postulava: "Para toda Ação, há uma Reação"... Se cuidarmos dos outros (nem que comecemos por aqueles que nos amam e que amamos), eles começarão a cuidar de nós e de muitos outros.
Antes achava que eu era independente, tudo que eu fazia dependia única e exclusivamente de mim... Como fui tolo em achar isso... Nós sempre estamos dependendo um dos outros, nunca estamos sós, somos parte (infima) de um todo... e como tal devemos, ou ao menos, tentar fazer nossa parte... cuidar daquilo que lhe é importante, cuida daquilo que você ama e acredita, porque só desta forma, seremos também cuidados, porque somos um bem importante ou amado de alguém.
Muito Obrigado por seu texto e continue escrevendo suas lindas reflexões... e você sendo uma psicóloga, sabe muito bem como fazê-la!
Um Abração.

Lara dos Anjos disse...

Adorável!! Pode curtir, querer admirar e interiorizar essas palavras? :)
Que nos tragam um café e um arroz-doce, por favor, que tenho saudades das nossas prosas noites afora.. =)
(que saudosista! Mas é por aí.) Beijo, Mi.