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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Cheiro de terra, cheiro de humor, cheiro de momentos, cheiros...




Você já deve ter sentido isso. Qualquer um que tenha o olfato minimamente preservado já sentiu algo parecido antes. São os cheiros. Esse poder, essa magia que nos penetra de forma invasiva (ou não) e que não podemos impedir sua entrada. Quando menos se espera, nós já estamos em contato. 
É como acordar com cheiro de café. Cheiro de pão fresco.


É dormir sentindo um perfume de roupa de cama limpa ou de cheiro de banho do companheiro ao lado. Cheiros sutis... Desses que por vezes nem tomamos conhecimento de que nós os percebemos, a menos que sintamos sua falta. 
Sei de um perfume, registrado em minha memória como o cheiro da tia Helena, que não partilha mais desse plano conosco. E eu nunca tinha me dado conta do cheiro dela, até que ela se foi. 




Cheiro de pessoas específicas. Cheiro de mãe, cheiro de pai, de irmão, de amigo.
Cheiro de amores....
Cheiros que trazem saudades. Que podem trazer também as lágrimas....





Cheiros que me gostam muito: cheiro de terra molhada, cheiro de cabela lavado, cheiro de chá, cheiro de travesseiro de fronha trocada, cheiro de colo, cheiro de uma linda noite, cheiro de amor. Cheiro de laranja, cheiro de uma plantinha que tem na frente da casa do Léo, que eu acho que é dama-da-noite, cheiro de jasmim, a única flor da qual me agrada o perfume. Cheiros de recordações. Cheiro de livro novo, cheiro de gasolina - não me pergunte porquê! - cheiro de pão de queijo, cheiro de bebê.

Belos cheiros. Sim, porquê eles são sinestésicos. E há quem diga que pode vê-los! Não duvido, sei que existe e sei que dos transtornos que se pode ter, esse é um dos que julgo mais poético...

Há cheiros menos queridos, como cheiro de cachorro molhado, que às vezes nem vem do pobrezinho!
Cheiro de prisão. Cheiro de hospital. Cheiro daqueles manicômios - os que tanto tentamos extinguir. Há quem diga que são cheiros agradáveis a alguém, de tão familiares que se tornam. A mim me lembra cheiro de urina. Não acho legal, mas denunciam um problema e é, das formas de intervenção, a que mais marca. Aquela que impregna o nariz e a memória. Aquela que, inacreditavelmente, não há como conter! Cheiro de doença, cheiro de suor, cheiro de mau humor. 

Sejam eles bons ou ruins, o fato é que os cheiros, apesar de esquecidos por nossa razão, está intrinsecamente relacionada aos nossos processos inconscientes. Essa afirmação não tem validade científica, por isso não transcrevam nada disso em um documento oficial. No entanto, reflitam comigo. É mais comum ouvir alguém dizer: "Essa música me lembra ...", "Essa imagem, essa cor, me lembra..." Mas é mais difícil ver alguém dizendo "Esse cheiro me lembra...". Não é impossível, é incomum. A alguns vem mais forte que pra outros, mas essa é só mais uma possibilidade de ser e estar no mundo, nesse mundo cheio de sons, imagens e cheiros. Não odores. Cheiros.

Fica a dica: prestem atenção nos cheiros. Porque, sendo mais sutis, podem ser também mais reveladores...


3 comentários:

Poliglota disse...

Primeirooo!

Curioso ler que é incomum alguém comentar sobre o cheiro. Sério mesmo, eu estou tão acostumado a cheirar as coisas e comentar sobre isso, que não acho incomum. O odor do mundo é fantástico! Cheiros que dão ânsia, cheiros que arrepiam, cheiros desmaiam, cheiros que matam, cheiros que trazem boas ou más lembranças... Todo tipo de cheiro, que é suficiente pra dar picos de emoções a qualquer pessoa.

É simplesmente o meu sentido preferido. O legal é sentir cheiro das coisas abstratas, tal como as pessoas que vêem o cheiro. Cheiro da discórdia, cheiro do amor, cheiro de nada (????), cheiro de cio (????????????????)...

Volta e meia qualquer um pode me ver seguindo o rastro de algum cheiro ou simplesmente erguendo a narina em movimentos. E então eu lanço frases que são capazes de prevenir estragos, pelo menos para mim e quem me credita.

Se um dia eu disser: "sinto cheiro de chuva", acredite, choverá. Nunca errei minha previsão nasal. E modestia à parte, as minhas principais profecias nasais são sobre carros, e sempre acerto todas. Cheiro de óleo queimado, cheiro de motor super-aquecido, cheiro de gasolina( é muito bom esse cheiro!!). Já senti cheiro de gás vazando do carro do meu tio, que de dão forte me deu alergia. E se ele não levasse no outro dia para a oficina, nunca descobriria que tinha furado o tanque de gás.

Já senti o cheiro da falta de óleo no motor do carro, e por pouco não fundi o motor. E o mais assustador foi sentir o cheiro da morte.
Para mim foi muito assustador, porque eu disse enquanto almoçava "sinto cheiro de morte" e horas depois meu avô morreu. Se alguém já pegou sangue de boi e ferveu em água, sentindo o cheiro disso, esse é o cheiro da morte.

Para tais peripécias desimportantes eu mantenho uma higiene não tão higiênica no nariz: a constante tirada de "catotas". Se elas ficarem ali, foi-se meu olfato. Estou aprendendo a sentir cheiro de incensos e reconhecê-los, mas meu cheiro preferido é o de fósforo queimado. Sempre acendo um só para ver a fumaça e senti-la me entorpecendo.

Agora falando tanto sobre cheiros, peripécias e entorpecentes, lembro-me de um dia em casa que reconheci um cheiro muito gostoso, que jamais imaginei que sentiria naquele lugar. Saudosa época do CEFET...
Mas isso é apenas para deixá-la curiosa, não tenho palavras para descrever aquele dia... Aquilo foi melhor do que fósforo. Pena que a distância e o tempo me fizeram esquecer... oh! mundo cruel dos milhões de cheiros!

Milady Oliveira disse...

Seu comentário é um adendo textual melhor que o próprio texto que o incitou!

Obrigada por compartilhar, homem dos cheiros!

Poliglota disse...

Sinto-me lisonjeado, mas um comentário tão curto e resumido quanto o meu, jamais poderia ser melhor do que o texto que o incitou. Quereria eu poder escrever tão bem quanto nossa querida autora de tão magnifícos conteúdos. Apenas lanço um bocado de idéias bagunçadas sem início, meio e fim.

Eu poderia descrever minuciosamente milhares de cheiros, ao ponto de encher uma enciclopédia. Afinal com tamanha enormidade de minhas faculdades nasais, nada mais justo que saiba usá-las! E como o Sr. Brás Cubás já suspeitava, o nariz não serve apenas para segurar os óculos!

E volto a frisar que não teria envergadura moral para tal comentário sem tão explêndido incentivo!