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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

2010: a nova chance



No início deste ano, bem em sua virada, tive uma sensação muito boa de que tudo daria certo em 2010. Um pressentimento de que a era da renovação havia chegado, uma época em que as preocupações seriam banais e saberíamos dar mais valor à vida, ao amor, às pessoas.

E eis que bem no dia 1º de janeiro, um desabamento no Rio de Janeiro mata mais de 50 pessoas. Minhas esperanças foram apedrejadas logo no início do ano. Mas me segurei. Ainda assim continuei acreditando na prosperidade de 2010.

Porém, mais uns poucos dias depois da tragédia da virada, o Haiti é atingido por um terremoto de proporções inacreditáveis. Esse sim, abalou minhas estruturas... Como eu iria continuar acreditando que esse ano era abençoado, se logo nos primeiros dias do ano ele foi arrasado por tragédias naturais? E a quem nós iríamos culpar dessa vez? A Deus? Ora, me poupe...

Mas agora, semanas depois, parando para pensar mais uma vez, talvez eu consiga me recompor e dar novo fôlego à minha esperança. É que, refletindo um bocadinho, me lembrei que uma vez minha mãe leu para mim um texto que dizia que nós não sabemos entender as coisas que acontecem conosco.
Pedimos em prece um pouco mais de paciência, sabedoria, discernimento, paz, e Deus nos dá oportunidade de alcançar tudo isso. Como é que eu queria que Ele me desse paciência? Embrulhado em um papel colorido? Eu preciso da oportunidade de demonstrar a aquisição desse dom precioso.

Pois é. Pedimos solidariedade e paz no mundo inteiro. E Deus nos dá um terremoto? Não. É muito mais digno da nossa parte, admitirmos que tanto mexemos no clima, no equilíbrio natural dos ecossistemas, que ele se voltou contra nós e era muito provável que isso acontecesse. O que Ele nos dá, na verdade, é a chance de reconhecermos o potencial de solidariedade que podemos alcançar.

Não vou defender a tese inatista de que a solidariedade nasce conosco. Alguns a reconhecem mais cedo. Outros conseguem enxergá-la tardiamente. E alguns jamais chegam a tocá-la. No entanto,  acredito que todos carregamos a capacidade de nos reconhecermos no outro. A famosa "empatia". Esse potencial de vermos que o outro, seja ele branco, negro, magro, gordo, homem, mulher, criança ou adulto, carrega uma marca que, inacreditavelmente, muitas vezes deixamos de perceber nas pessoas: a sua humanidade. Não há um humano sequer que tenha a pele constituida por plástico ou a carne de borracha.

O que aconteceu em Porto Príncipe dá notícia de um legado que, alienadamente, esquecemos. Uma negligência fatal. Nos esquecemos de cuidar um do outro. Em meio ao caos e à destruição em que se encontra aquela gente, conseguimos flagrar pessoas que deixam suas casas (inteiras) para tentar salvar pessoas, com quem não mantém nenhum laço cosanguíneo. Arriscando sua própria vida, por alguém que desconhece sua história e que não saberá dizer nem o nome de quem o salvou.
Isso eu chamo de solidariedade. Como diria a boa e velha ironia da professora Morgado: ajudamos as pessoas "desinteressadamente"... Mas das atitudes "interesseiras" que podemos ter nessa vida, essa de querer ajudar as pessoas para se sentir bem, é uma das mais louváveis e perdoáveis.

Então, ficamos com essa lição nas mãos. Em tempos de se pensar em sustentabilidade, pensemos com carinho e atitudes concretas. Em tempos de caos, ajudemos as pessoas a reconstituirem suas vidas e nos tornemos solidários. Em tempos de uma possível nova Guerra Fria, deixemos de lado as desavenças e desconfianças. Pois se querem saber minha opinião, os haitianos não estão nem aí para saber se a ajuda vem de norte-americanos, árabes, israelitas ou franceses. Mesmo reconhecendo a dor das pessoas que ficaram perdidas nos destroços de suas casas e de suas vidas, tenhamos a capacidade de reconhecer que, o fato do mundo inteiro se unir para apoiar o Haiti, talvez nos tenha aproximado um pouco mais disso que gostamos de chamar de "paz". E talvez seja essa a grande lição que 2010 tem para nos ensinar: a paz, assim como a liberdade, não pode ser dada; ela deve ser conquistada.  

Um comentário:

Unknown disse...

Desastres sempre acontecem e com certeza são frutos de nossas proprias ações, ainda que não saibamos de onde exatamente veio, mas sabemos que todos colaboramos pra esse tipo de coisa, diretamente.

Mas tenho por mim, que tudo que começa muito certo, termina desastrosamente ( eu sei, eu sei... ), não seria absurdo pensar que o inverso seria bom para compensar não é ?

O importante é não deixar de torcer, afinal, desastres sempre acontecem seja conosco ou com outros, o importante é como superar essas situações o/